quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Golpe


O odor. É familiar. Cheiro de animal distraído. Preza fácil. Nessa situação o predador se garante e abocanha a preza com facilidade. O animal acuado exala seu medo. Um dia e todos vamos sentir o cheiro. Demarcação. O pavor.

Quando estrategicamente alimentadas feras buscam o prazer saciando a fome. Exercitando a perversa animalidade.

Uma maneira divertida é atordoar, prolongar aquele cheiro. O estremecer. Rolar de canto em canto. Tapas na agonia. Até o momento do golpe único.

Quando a fera anda muito faminta, ela dispensa o jogo e golpeia imediatamente. Devorando insaciável. Nesse momento o cheiro do sangue ainda quente é mais urgente. Absorver o calor do que ainda está pulsando.

domingo, 11 de abril de 2010

Viagem de trem


Escrevo desde os 12 ou 13. Fazendo as contas e o resultado pode ser zero. Vou insistir e quem sabe o azar me deixe escrevendo até o fim dos dias.
Assim sendo e eu estou certo de ter apreendido alguma coisa. Sobre o escrever, por exemplo, sei que a leitura é irmã da escrita. E serve o contrário. Absolutamente. E percebo que a leitura não se restringe ao alfabeto. A construção do olhar.

São tantas horas da noite e tudo está quieto e calmo. Um silêncio. O chão começa a vibrar. O vento muda de direção e sou despertado pelo sopro. Ele está vindo.

Diminui a velocidade. Está no horário.

Cochilei. Por um breve momento eu cheguei a sonhar. Meu irmão e eu brincando na sala. Alguém aparece e leva meu irmão para a cozinha. Levanto e vou até lá. Empurro a porta e não há mais nada. Apenas uma luz forte desenhando em preto e branco.

Os faróis da locomotiva.
A porta abre. Estou sozinho no vagão. Faça da mochila um travesseiro e do banco uma cama. A viagem vai ser longa. E amanhã tenho que resolver as urgências. Se não descansar fico imprestável.

- Você tem fogo?

- Tenho. Não podemos fumar aqui.

- Não?

- O fósforo. Pode ficar.

- Aonde vai?

- Mudar de vagão. Preciso dormir um pouco.